Confusão entre real e virtual gera o caos "organizado" que domina os dias de hoje

Estava lendo o excelente site de semiologia Cinegnose em um artigo que comparava um suicida chileno que acreditava ser filho de Jesus e o fã-stalker que queria matar a modelo e apresentadora de TV Ana Hickman e analisando os dois casos, fiz uma outra comparação, desta vez com o comportamento das pessoas atualmente sobretudo em relação às redes sociais. Ambos os casos mostram pessoas que davam sinais de que confundiam realidade e virtualidade (ficção).

Na verdade, as pessoas estão perdendo a noção de realidade. Ninguém mais quer o mundo real, quer construir a sua própria realidade. As brigas na verdade se originam da teimosia de uns de impor a sua realidade criada interiormente em seu cérebro ao outro, que também quer defender a sua própria realidade que criou, diferente da do outro. E nenhum dos dois quer analisar a realidade como ela é e sim como gostaria que fosse.

Essa confusão entre real e virtual tem ganhado força com a internet, principalmente com o sucesso das redes sociais. Mas não é fato novo. Os religiosos são os pioneiros em confundir realidade com ficção. Acreditam em seres e fatos, uns sem comprovação real, outros com a comprovação de sua inexistência e inviabilidade. Mas como religiosos são tradicionalmente desestimulados a raciocinar, os absurdos que defendem passam a fazer sentido, mesmo que fique provada a sua condição de absurdos.

Credulidade no lugar da racionalidade

Essa confusão entre real e virtual acaba por distorcer conceitos e criar confusões. Quando Michael Jackson morreu, um membro de uma comunidade dedicada a Legião Urbana em uma rede social, comunidade que nada tem a ver com o cantor americano de pop-funk, criou um tópico dedicada ao então recém falecido onde houve um desfile de verdadeiras asneiras típicas de quem não possui conhecimento do que ocorre de fato na realidade do mundo da musica. 

O tópico foi apagado cerca de meia hora depois de criado e provou que a fé religiosa também é presente em assuntos laicos e pagãos, já que boa parte das "informações" que comparavam Jackson com o vocalista e letrista da Legião Urbana, Renato Russo, Era todas baseadas em crenças pessoais de cada um, quando as evidências as invalidariam automaticamente. Isso é só um exemplo de muitos que ocorrem por aí que mostram a confusão entre real e virtual e a utilização de crenças em substituição da racionalidade que deveria estar sendo utilizada.

Anti-petismo nasceu da credulidade, da fé

O próprio anti-petismo que virou moda atualmente é uma verdadeira demonstração da substituição da racionalidade pela crença. Nascida de boatos construídos pela mídia oficial, uma das principais interessadas em tirar o PT do poder, já que este atrapalhava seus planos de expansão capitalista, mesmo fazendo Capitalismo brando, a crença no anti-petismo é uma versão brasileira e atualizada do Macartismo.

Esta ideologia, fundamentada na atuação do político americano de extrema-direita Joseph McCarthy que inventou defeitos para o Socialismo se baseando na atuação de deturpadores como Stalin, Mao Tsé Tung e sistemas bolivarianos, todos sem exceção sem compreender o verdadeiro sentido das doutrinas de esquerda. Infelizmente as deturpações foram imediatamente assimiladas pelo senso comum (lembrando que há muitos religiosos fanáticos entre os direitistas, o que justifica o modus operandi) e os verdadeiros ideais de esquerda foram desmoralizados, contaminados pelos erros dos deturpadores, excessivamente levados a sério. A direita é eternamente grata por Stalin, que involuntariamente fortaleceu o Capitalismo.

Voltando ao anti-petismo, somando as tradições macartistas e o poder midiático dos principais interessados em derrubar o Socialismo, a oportunidade de aproveitar a ignorância da maioria das pessoas e a fé cega não apenas nas religiões, mas em pessoas e instituições consideradas confiáveis, criou-se o cenário perfeito para que surgisse uma nova direita, defendida inclusive por jovens mal saídos dos berços, que incapazes de analisar fatos, se prendem a boatos lançados por fontes confiáveis para desenvolver seu ódio irracional por um sistema que poderia ter melhorado o país, trocando-o por outro sistema comprovadamente incapaz de melhorar qualquer coisa.

Para estas pessoas desacostumadas a pensar, a inteligência nasce da fé e não da razão e isso é reforçado pelo sistema educacional brasileiro que superestima o acúmulo de informações (memória) em detrimento ao processamento dessas informações (contestação e análise). Se achando inteligentes, boa parte dos crédulos acaba desenvolvendo a teimosia, o que faz com que seus pontos de vista se solidifiquem se tornando valiosos e intocáveis patrimônios para essas pessoas.

Caos social criado pelo desprezo a racionalidade

A confusão entre real e virtual, fato e opinião tem originado o caos humano que marca o nosso mundo, mas aparece em dimensões ampliadas na sociedade brasileira. Um povo tradicionalmente desestimulado a pensar, que acha que intelectuais são "chatos" e depressivos", que analisar é perda de tempo e que considera a fé como sua maior virtude, além de acreditar que "estar de bem com a vida" é sorrir diante de desgraças insolúveis, certamente acabaria criando um verdadeiro caos social que não dá sinais de que será resolvido.

Ainda mais com um governo instalado através de um golpe enrustido (a tradição prova que golpistas nunca assumem que fazem golpe) feito por homens gananciosos que querem impor a toda a sociedade brasileira as suas convicções pessoais, também geradas da credulidade e da confusão entre real e ficcional. 

Como agem em prol de suas convicções e não com base na realidade, teremos tempos difíceis no Brasil, pois os homens que se instalaram nas mais elevadas cadeiras de Brasilia certamente vão preferia construir a realidade brasileira como eles querem, não importa o que pense a coletividade de toda a sociedade brasileira. O mundinho virtual da cabeça de Michel Temer e de seus aliados será, infelizmente, a realidade que teremos que encarar. 

A verdadeira realidade, esta ignorada por todos que preferem "pensar" com a fé, irá nos cobrar um preço bem caro por nossa tola credulidade.

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