Repercussão do caso do atirador de Oregon pode estimular preconceito contra ateus

Pessoas que agem diferente da maioria têm como carma a rejeição social. Estimuladas pela mídia e por regras sociais estabilizadas, grande pate das pessoas acredita que imitar a maioria, pensando, gostando e agindo da mesma forma é um sinal de normalidade mental. Somos acostumados a achar que tudo é biológico que "está no sangue" e ser diferente para a maioria soa como uma deformação.

Houve mais um triste episódio de assassinato coletivo nos EUA, em Oregon, recentemente. Os EUA são um país que além de estimular uma cultura da violência, com justificativas higienistas, é bastante frouxa nas leis de compras de armas. É sabido por todos que armas representam o principal produto fabricado na terra do Tio Sam, o que justifica a necessidade de inventar tantas guerras.

Um jovem infeliz, complexado e que certamente odiava seres humanos resolveu entrar em uma faculdade e matar quem encontrasse pela frente. Só que ele teve a infeliz ideia de praticar intolerância religiosa perguntando ironicamente: "Vocês são Cristãos? Vou mandar vocês se encontrarem com Deus imediatamente!". Este comentário, somado ao triste ato pode levar a religiosos sobretudo cristãos, a aumentar ainda mais o preconceito contra ateus.

Certamente não foi o ateísmo ou a "falta de Deus no coração" que estimulou o jovem a sair matando. Primeiro, deve-se levar em conta que o cara era um revoltado. Segundo, que não foi o primeiro caso desse tipo ocorrido nos EUA (e infelizmente não será o último). A ocorrência de muitas outras chacinas semelhantes nos EUA pode ter encorajado o jovem a fazer a mesma coisa.

Mas isso não justifica que o ateísmo deva ser invalidado. Ele não matou porque era ou não ateu (não se sabe se ele era ateu ou de uma religião não cristã - há mais chance dele estar no segundo caso) e sim porque odiava pessoas. 

Ateus não aprovam atos de violência e de egoísmo

Ateus são os que mais respeitam as religiões, justamente pela isenção ideológica que permite que possa compreender todas, sem render a algum dogma. Além disso, ateus aprendem a amar pessoas e não divindades e seu senso de altruísmo e mais espontâneo, surgido da necessidade de ajudar os outros e não com a intenção de agradar a Deus ou alguma divindade.

O ateísmo é uma não-crença e não é uma ideologia. É simplesmente a ausência de religiosidade, somada a preocupação em compreender melhor a realidade. Só isso. Ateus não acreditam em dogmas (lendas) e em divindades de qualquer tipo, seja boa ou má e compreendem que as religiões não passam de mitologias, sendo benéficas para a cultura, mas nocivas quando aplicadas na realidade cotidiana. 

Mas nada justifica a agressão contra cristãos. A religiosidade é uma fase da experiência humana que deve ser respeitada por ser necessária em um momento da vida. Adquirindo a capacidade plena de questionamento e a disposição para analisar, a religiosidade vai desaparecendo aos poucos e as pessoas, elevando a sua auto-estima, passam a compreender melhor a realidade, dispensando a existência de seres imaginários para lhes "ajudar". 

Mas ser imaturo não é um erro, faz parte da vida. A medida que vamos vivendo, vamos aprendendo mais e nos desfazendo daquilo que passa a não ser mais útil (como uma criança que descarta seus brinquedos). Mas devemos sempre ter a obrigação de respeitar as crenças alheias que, mesmo oferecendo uma ilusão, corresponde naquele momento como uma fonte de conforto para aquele que manifesta a sua religiosidade.

E insisto: isso deve ser respeitado, assim como a não-crença. Usar este ato infeliz, logicamente reprovável para atacar os ateus é também outra forma de intolerância. Se os cristãos entendem que a crença deles deve ser respeitada, deveriam entender que a não-crença deve ser respeitada do mesmo jeito. Não responsabilizem o ateísmo por essa barbaridade. Ateus não concordam com isso.

Nos unimos aos cristãos na iniciativa de reprovarmos sem hesitar este ato grave de desrespeito humano e apoiamos incondicionalmente as famílias das pessoas mortas, oferecendo nossa ajuda quando houver oportunidade de auxílio.

Acreditar em Deus ou não nada tem a ver com a bondade. O senso de bondade está ligado ao altruísmo, ao fato de acreditarmos nas pessoas, na espécie humana. E o que fez esse infeliz cometer essa atrocidade inaceitável é que ele não confiava nos seres humanos. Para este infeliz, o mundo particular que ele criou deveria ser habitado apenas por ele mesmo e mais ninguém.

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