O direito a fé não deveria ser protegido por lei

Sei que esta postagem é polêmica, mas é necessária. Apesar de ser benéfica à cultura, enriquecendo-a através de crenças e rituais, como uma mitologia moderna, a religiosidade passa a ser nociva quando começa a interferir na realidade. Se a religiosidade fosse uma mera diversão, tudo bem. 

Mas a religiosidade é tratada por muitos como assunto sério. Hábitos e costumes são condicionados de acordo com a crença em fatos e seres sem qualquer tipo de comprovação existencial. A crença em seres tão reais quanto os heróis em quadrinhos chega a criar preconceitos e convicções que atrapalham e muito o desenvolvimento da sociedade como um todo. Infelizmente, a religiosidade é o grande freio de mão social e nunca vamos resolver os nossos problemas, enquanto continuarmos acreditando em absurdos sem sentido.

Fé é sinônimo de credulidade. Mas é considerada pela tradição a nossa maior qualidade. Má interpretação da ideia de que devemos ter confiança em nós mesmos e nas circunstâncias, acaba se estendendo a fé em divindades e em estórias sem pé nem cabeça que mesmo irreais, acabam mudando o nosso modo de enxergar o mundo, interferindo em nossos costumes e pensamentos.

Mas o grande erro de nossa Constituição Federal é legitimar a crença em absurdos, garantindo por lei a "liberdade de crença", algo que para mim deveria estar incluído no direito ao lazer. Superestimar a religiosidade, criando uma lei só para ela, é aumentar a sua importância e ao mesmo tempo, contradizer a laicidade do Brasil. Se não bastasse temos na própria constituição uma referência a "Deus" logo na abertura. Somos e devemos ser submissos a esse Gigante Invisível que ninguém provou que existe e que cada um molda a seu próprio gosto.

Essa legitimação da religiosidade faz dela um assunto sério, como se tudo dependesse das decisões desse Gigante Invisível. Vivemos para satisfazê-lo. Somos escravos de um ser ficcional e construímos toda a perspectiva de vida com base nessa doce escravidão. Pensamos ser livres, sendo acorrentados a esse Gigante Invisível que chamamos de "Deus" e "Pai". Contradições aceitas por uma sociedade cada vez mais irracional. Cérebro é enfeite?

Sociedade evoluídas são cada vez menos religiosas. Intelectuais não costumam ser religiosos. A religiosidade tem causado estragos pelo mundo. Nos separa, nos agride, nos pára e não resolve nossos problemas. Pelo contrário: a religiosidade existe para que os problemas, que nos prejudicam, mas beneficiam as elites, nunca terminem, criando em nós um sentimento de conformismo e compensação.

Porque algo tão nocivo a nossa sociedade tem que ser respeitado e garantido por lei? Porque tem os que ser obrigados a aceitar teorias absurdas e seres imaginários? Temos o direito de nos iludir? A ilusão é um direito a ser respeitado? Como vamos evoluir sendo enganados pelos sacerdotes, bispos, médiuns ou qualquer líder religioso interessado em usar a credulidade alheia para satisfazer suas particularidades?

A lei está do lado desse líderes. A lei legitima a enganação. Sermos enganados é um direito e um dever garantidos por lei. Os religiosos, supostamente a serviço desse Gigante Invisível que quase todos consideram o Dono do Universo, são cúmplices de governos e empresários, pois sabem muito bem que a fé nos imobiliza, a fé nos faz obedientes. 

A obediência a divindades celestes nos ensina a sermos obedientes a políticos e patrões, as versões terrestres dessas divindades. Com a religiosidade, os fracos adquirem o medo que os farão submissos aos fortes, que usarão isso para nos dominar e sugar as nossas forças e bens.

E a lei legitima isso. Certo. Não sairemos disso tão cedo, pois até a mídia corrobora esse sistema de domínio teocrático. Somos laicos só no discurso, mas submissos ao Grande Duende na prática. E construímos nossa vida e nossa perspectiva com base nessa credulidade, garantida por lei.

O respeito da lei à religiosidade pode ser o maior ato de desrespeito ao ser humano já feito na face da terra.

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