Sinal dos tempos: ENEM abandona tema social em redação e pede para respeitarmos religião

A direita quer porque quer implantar a medieval Escola sem Partido, que pretende substituir a discussão política pelo proselitismo religioso nas escolas. A iniciativa já está sendo discutida no legislativo federal com grandes chances de aprovação. Uma das provas de que a EsP pode realmente ser aprovada foi o tema escolhido pelo ENEM para a redação: Como combater a Intolerância Religiosa.

Isso significa muito mais do que "puxar a brasa para a sua sardinha". A religião é uma das ideologias-base do conservadorismo. Apesar de ter todas as características de uma mitologia fabulosa, quem acredita nelas pensa que é realidade e sonha em utilizá-la para regular o cotidiano de toda a humanidade. Como acham que na Terra existem líderes humanos, acham que o Universo também tem o seu líder humano, no qual colocam o nome de "Deus".

Claro que não está explícito o proselitismo religioso na escolha do tema para a redação. Mas se pensarmos bem, a própria escolha do tema leva a uma aceitação da religiosidade como reguladora da moral. Sabe-se que a maioria das pessoas não consegue enxergar bondade sem religiosidade. Há quem pense que ser bom não é ajudar os outros e sim obedecer a Liderança do Universo. Não é de estranhar que pessoas religiosas são as que mais agridem as outras.

O que é mais espantoso é que os religiosos exigem para si o respeito que não tem pelos que não creem. Os ateus continuam sendo a class mais intolerada da sociedade. Não crer em "Deus" significa para muitos desobedecer a maior liderança do universo e consequentemente não ser bom. Quem acha que não existe bondade sem fé certamente vai ver no ateu um mau-caráter. Mesmo que o ateu não faça mal a uma formiguinha.

Outra coisa a notar é que a escolha do tema coincide muito com o governo golpista que se instala. Os outros temas do ENEM foram ligados a causas sociais, vistas pelos conservadores como "doutrinação de esquerda". Conservadores odeiam causas sociais e, defensores da falácia da Meritocracia (que diz que "todo rico é um pobre que deu certo"), acham que os pobres têm que se virar se quiserem sair da pobreza. Com Temer no comando, trocou-se um tema conscientizante por proselitismo religioso. Bem ao gosto das lideranças religiosas cristãs que apoiam o governo.

Muitos jovens, já devidamente doutrinados pelo conservadorismo que impera (e que a mídia reforça), não se incomodaram com o tema. Infelizmente, vários desses jovens são religiosos. O Brasil acaba de revelar muitas pessoas com idades novas e ideias velhas, o que mostra que o país vai demorar muito para voltar a progredir.

Mas o próprio ENEM é conservador em si. A ideia de exigir uma espécie de funil para entrar em uma universidade pública casa muito bem com o objetivo dos conservadores. Mantido pelos governos petistas, o ENEM certamente é algo que os governos de direita nunca irão eliminar. É especialidade da direita conceder benefícios apenas a uma minoria que satisfaça as exigências de quem manda no país. O resto que se mate.

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