Ainda estamos na Idade Média. Sem previsão para sair dela

Ontem, ao comprar o pão para o café noturno, estava rodando no rádio que tocava no supermercado onde ficava a sessão de pães, a chamada "hora da Ave Maria", um retrocesso católico imposto a quem ouve as rádios no badalar das 18 horas. Para piorar, a música em homenagem a personalidade católica foi executada (ou assassinada?) na voz dos picaretas ultrabregas do Chitãozonho & Xororó, hoje beneficiados pelo surgimento das babaquices do "sertanejo universitário" que transformaram os veteranos da música idiota em "gênios".

Exclusividade do Catolicismo, Maria, conhecida como "Virgem Santa" ou como "Nossa Senhora", nem era para ser cultuada. Sua única virtude foi ter gerado Jesus. Estudos sobre o Jesus Histórico comprovaram que ela era contra a militância de Jesus. Porque ela ainda é cultuada como se fosse discípula de seu próprio filho, se de fato não era?

Seria melhor que cada católico gravasse a música em um mp3 e ouvisse todos os dias  às 18 horas. As emissoras de rádio não deveriam impor uma crença que é exclusividade de um grupo de pessoas. É ofensivo sugerir que o não-católico "desligue o rádio" se não quiser ouvir a música. É privar o ouvinte de ouvir a tal emissora na hora em que ele quer ouvir.

Isso me parece a Idade Média. Na ocasião do supermercado a frase "ainda estamos na Idade Média" saltava dentro da minha mente feito um mantra. A religiosidade, que na verdade é um resquício da infância (a crença nos super-heróis lembra muito a devoção religiosa), já deveria ter desaparecido no Século XXI, que deveria ser racional, mas está revelando uma humanidade cada vez mais emburrecida e insensível.  E os valores mais retrógrados, sejam morais, religiosos, político , econômicos e até culturais estão todos voltando, num grave sinal de retrocesso.

A religiosidade só é benéfica quando limitada ao aspecto de entretenimento cultural. A arquitetura, a música e o teatro enriqueceram muito com as manifestações religiosas. Mas quando a religiosidade interfere no cotidiano, ditando costumes e mexendo nas leis, acaba causando um estrago imensurável, criando preconceitos, impedindo o progresso e perpetuando o sofrimento. Tudo em nome de ideias e personalidades sem comprovação de existência real.

É um atraso que a religiosidade interfira no cotidiano. E nem adianta aliar a tecnologia às igrejas. De que adianta uma máquina possante estar processando ideias arcaicas que impedem o nosso progresso pessoal, sobretudo de nosso computador interno chamado "cérebro"?

Lamento dizer, mas ainda estamos na Idade Média. Não temos previsão de quando sairemos dela. Os ateus e laicos até estão aumentando em número, incomodados por tanto proselitismo religioso, maciçamente difundido. Mas ainda são uma esmagada minoria de uma sociedade tradicionalmente refém da grande mídia, esta ainda bastante aliada das igrejas e seitas e difusora máxima dos absurdos sem pé nem cabeça defendidos por elas.

Essa nova Idade Média é igualzinha a outra, com a única diferença que temos máquinas e computadores no lugar de cavalos e artefatos medievais. Mas a mentalidade isolante e submissa típica da "idade das trevas" ainda é exatamente a mesma. Se não tentarmos nos livrar dessa mentalidade arcaica estaremos degradando cada vez mais, voltando aos primórdios da Idade da Pedra, onde somente os instintos atuavam plenamente.

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