Tragédia de Santa Maria: não chorei pelas vítimas; não choro e nem vou chorar
A tragédia que aconteceu em Santa Maria, RS chocou a todos. Mas também rendeu um festival de textos pseudo-solidários cheios de pieguice e demonstrações de falsa emotividade.
Fiquei perplexo, mas tranquilo. Não chorei por ninguém. nem vou chorar. não conheço nenhuma das vítimas e não criei afeto por elas. Então porque sou obrigado a chorar? Sou tido como mau caráter, só porque não me sensibilizei - ou não entrei nessa onda de "sensibilização coletiva - pelo que aconteceu? Sou obrigado a sofrer por quem nem bem conheço e que nada tem a ver comigo?
Interessante que toda vez que acontece uma tragédia desse tipo, um festival de modismo sentimentaloide começa a ser manifestado. Um verdadeiro show de hipocrisia que mostra uma falsa solidariedade vindo justamente de quem não costuma ser solidário (repararam que as pessoas mais insensíveis são as que mais posam de sentimentais?). Não digo que todos agem assim, mas boa parte com certeza está muito mais interessada em posar de "boazinha" pertante a coletividade do que realmente ser solidária.
E porque chorar e sofrer pelas vítimas? Isso seria justo se tivéssemos realmente uma relação de afeto para as vítimas de acontecimentos desse tipo. Mas não temos. E preferimos chorar e lamentar oralmente, talvez pensando que isso sensibilizasse o "Deus" das religiões para que cumprisse o impossível ato de trazer as pessoas de volta. O surrealismo é muito comum em mentes desesperadas.
Claro que, para quem dependia das pessoas vitimadas ou tinha relações de afeto com as mesmas, é natural e compreensível que haja reações fortes. Mas para pessoas que nunca participaram do cotidiano das vítimas, não há motivo para desespero e pieguice a não ser por modismo sentimentaloide. Como acontece em todas as tragédias.
E o que poderemos fazer como reação ao ocorrido em tragédias como esta? Ao invés de pieguice, porque não ajudar financeiramente parentes que eram sustentadas por pessoas que faleceram? porque não dar o emprego que as pessoas falecidas tinham, substituindo os mortos por outros que precisem trabalhar? Porque não aproveitar as lições do episódio para que nunca se repita em outros lugares? Será que nem o 11 de setembro americano serviu de lição para que evitemos desastres de todo o tipo?
E isso não se consegue com pieguice hipócrita. Não é escrevendo neste blogue "oh, que tristeza, como a sociedade está sofrida..." ou fazer decretos de luto (que na verdade nada servem além de dar aparência de "bondade" a quem decreta) que vamos resolver os problemas gerados por tragédias. E para isso se tem que ter muita racionalidade e equilíbrio emocional, algo que a maior parte dos brasileiros ainda não teve a iniciativa de desenvolver.
Posso parecer mal escrevendo isso. Mas não sou. pelo contrário. Apesar de não sentir nenhum afeto por qualquer pessoa envolvida nesta tragédia, pratico o verdadeiro altruísmo em querer que soluções reais apareçam, sem as loucuras impostas pelas religiões, num falso altruísmo que só atrapalha. Quero que todos vivam bem e com qualidade, sem se enganar com paliativos e musiquinhas piegas cantadas em eventos de pseudo-solidariedade.
Se a sociedade brasileira fosse mais racional, não somente teria encarado essa tragédia, sem pieguice e com maior equilíbrio emocional, como teria evitado. A obsessão por emoções baratas regadas a muito barulho, fogos e bebedeira contribuiu muito para que essa tragédia acontecesse.
A imaturidade do brasileiro, que ainda não sabe se divertir de maneira tranquila e segura poderá fazer muitos desastres desse tipo, se a população não tirar boas lições desse episódio evidentemente triste. A alegria não deve vir de fogos e copos ou taças cheias de bebidas alcoólicas. A alegria deve vir dentro de nós mesmos. E isso é que é realmente ter sensibilidade.
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