Ateus são a classe que mais sofre preconceito

Vivemos em uma sociedade conservadora e preconceituosa. Brasileiros, com vocação para a diversidade, sempre tiveram raiva de ver uma sociedade tão heterogênea. O sonho de muitos brasileiros é o de ver uma sociedade homogênea,  com mesmos gostos, convicções e ideias, acreditando que certas características, relacionadas com certos valores considerados positivos, são naturais, fazendo parte da mente humana.

Claro que existe preconceitos contra mulheres, negros, índios, gays, pobres e outras classes consideradas subversivas diante do estereótipo do "homem de bem e pagador de impostos". Mas nenhuma classe sofre um preconceito tão cruel quanto os ateus, rejeitados inclusive por integrantes de classes socialmente e economicamente excluídas.

O Brasil, por desprezar o intelecto e transformar a fé em sua maior qualidade, acreditando que a razão e a lógica são incompetentes para explicar a realidade e resolver seus problemas, hoje infelizmente crônicos, entendeu que a ausência da crença que somos tutelados por um Gigante Invisível é nociva. 

Temos todos que acreditar em Deus e de preferência se aliar a uma religião, por mais absurdos que sejam os dogmas. Se os dogmas são absurdos é "porque não temos a capacidade de compreensão divina" e que "com o tempo, tais dogmas serão melhor compreendidos através da sabedoria divina". Seria o que chamam de "Mistério da Fé", um engodo usado para defender dogmas que desafiam a razão, a lógica e o bom senso.

Ser ateu é recusar não apenas a crença em dogmas absurdos, mas na existência de divindades de todos os tipos. Ignorância dizer que ateus "são devotos do diabo". Ateus não acreditam nem mesmo em divindades do mal. 

A lógica prova que não depende de fé religiosa para ser uma pessoa boa e respeitosa do direito alheio. Pelo contrário, pois há muitos sádicos religiosos (praticantes!) na história da humanidade. Na Bíblia, há muitas partes que estimulam o sadismo e o prejuízo alheio, que raramente são reveladas por lideres religiosos, interessados em usar o estereótipo da bondade cristã para induzir massas a trabalhar a seu favor.

O ateu defende a bondade natural, vinda do altruísmo e do amor ao próximo e não do cumprimento de dogmas religiosos feitos para agradar a uma autoridade celeste que nunca provou a sua existência de fato. Mesmo assim, o ateu sofre preconceito por ser confundido como alguém perverso, por supostamente se rebelar contra o Controle Divino, regulador moral de toda a humanidade.

Porque ser ateu é recusar ser controlado por Deus. Ser ateu e ter uma conduta moral diversa das leis impostas por esta Divindade invisível que todos chamam de "Deus". Para muitos, não acreditar em Deus é não acreditar em suas regras, é não ser bondoso de acordo com o que Deus estipulou.

Por isso que os ateus sofrem grave preconceito, sendo cruelmente rejeitados por quase toda a sociedade brasileira, que ainda acredita que não existe bondade sem fé religiosa. Mesmo quando a fé religiosa não garante o altruísmo - os bolsonaristas, sempre religiosos, estão aí para provar a relatividade desta tese - fazendo que que muitos religiosos prejudiquem os outros em nome da "defesa da honra e da moral cristã".

Vai demorar muito para que a sociedade passe a respeitar os ateus, já que nem mesmo esquerdistas e progressistas demonstram algum empenho em defender o direito a não-crença. Não há uma campanha em defesa do ateísmo assim como existem campanhas feministas, anti-racistas e anti-homofóbicas. Vários esquerdistas corroboram a fé religiosa e estão ocupados em defender a liberdade de crenças, se esquecendo que a não-crença também faz parte deste tipo de liberdade.

Ateus são o grupo que mais sofre preconceito e muitos tem que esconder esta condição por uma questão de sobrevivência, pois não é rara a existência de fiéis interessados em matar os ateus por ver neles pessoas altamente nocivas a humanidade. Infelizmente, as coisas tem sido assim e serão por muito tempo. Vai custar para ateus saírem do armário e das bolhas onde vivem trancafiados.