Solidariedade Natalina: Hipocrisia e Auto-promoção

No mundo em que o egoísmo voltou a moda - sintomatizada pela eleição de fascistas em várias partes do mundo, como no Brasil de Bolsonaro - falar em solidariedade todos os anos na época natalina nunca deve ser levado a sério. Até porque o tipo de solidariedade praticada não só é incompatível com este estado de espírito como soa como um hipócrita ato de auto-promoção.

Parecer bondoso atrai a confiança alheia e por isso todos querem estar agarrados a valores tidos como "do bem", jogando para opositores os estigmas relativos a vilania e ao egoísmo. Por isso que em todo o final de ano, egoístas habituais se apressam a praticar algum tipo de caridade que não ameace o sistema e muito menos ameace a ganância capitalista dos mais prósperos.

A ideia não é tirar os pobres da desgraça. A finalidade da solidariedade capitalista - estranhamente apoiada por vários esquerdistas ingênuos que idolatram lideranças religiosas mais do que duvidosas - é criar um meio para que os pobres suportem a sua desgraça sem sair dela. 

Pobres permanecerem na desgraça é importante para os interesses dos mais prósperos, entre magnatas e a classe média que os bajula. Assim a renda não é distribuída e os mais prósperos continuam felizes e tranquilos com seus luxuosos supérfluos. Enquanto isso, a "ralé" tem a sua alegria provisória de ter algo a mais em suas vidas até acabar e ter que esperar o próximo Natal para uma outra ajuda paliativa.

Mas mesmo assim, a tal solidariedade não pode deixar de ser feita, pois promove os "benfeitores" como pessoas bondosas, mesmo que elas não sejam bondosas de fato. Mas a ajuda deve ser a mínima possível, já que os prósperos terão muitos gastos para as festas natalinas particulares para se exibirem para amigos, parentes e colegas, transmitindo a falsa imagem de que são seres humanos cada vez melhores.

A verdadeira  solidariedade deveria ser aquela que tira o pobre de sua condição de pobreza. É fazer os pobres deixarem de ser pobres. Um emprego e uma casa, mesmo pequena, seriam uma forma melhor de caridade. Não as cestas básicas e migalhas que só duram poucos meses. 

É lindo ver prósperos distribuindo cestas e brinquedos a pessoas carentes, mas para quem tem a pobreza como rotina, é apenas um reles paliativo a durar muito pouco. De fato, nunca passa de uma farsa a alimentar a hipocrisia humana de quem se recusa a se livrar de seus excessos desnecessários para ajudar a quem não tem sequer o mínimo necessário.

A caridade natalina vista na maioria dos casos - há exceções que preferem ajudar de verdade, mas elas são poucas e merecem nossa aprovação - nunca melhorou a humanidade e em um país onde a desigualdade só aumenta, temos que aceitar a triste realidade de que a solidariedade capitalista só serve mesmo para promover quem ajuda, que se passa por bondoso só porque deu migalhas a pessoas que este mesmo "benfeitor" considera inferiores. Lamentável.

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