O novo tipo de fanatismo, não-estereotipado, mas extremamente doentio

É cultural no Brasil aquilo que chamamos de culto à personalidade. Brasileiros ainda são bastante imaturos e até pela influência da religiosidade, estamos acostumados a eleger um tutor, alguém que possa nos orientar o caminho, já que nos recusamos a decidir por conta própria para onde vamos andar.

Esse culto à personalidade, que nada mais é que a escolha de um tutor, faz gerar um fanatismo que pode atingir grandes proporções a medida que criamos uma dependência rígida a esse tutor. 

Não consideramos como fanatismo porque está longe do estereótipo de fanatismo que conhecemos. Até naturalizamos, pois o culto à personalidade, virando rotina, se torna algo tranquilamente normal.

É algo que cresce em um país com condições perfeitas para fanatismos, já que brasileiros são pouco afeitos a intelectualidade, portadores de preguiça intelectual, embora adorem serem chamados de inteligentes. Afinal, se já somos inteligentes, para quê raciocinar. É ter fé e seguir as orientações de "quem sabe". E "quem sabe" são estes "homens sábios".

Este culto à personalidade se torna fanatismo, e dos mais doentios, porque tendemos a defender de forma apaixonada aqueles que nos tutelam ou que no mínimo nos orientam. Líderes religiosos, políticos e celebridades ocupam as nossas mentes nos aconselhando, moldando nossas mentes, influenciando pensamentos e atitudes. Fazendo - supostamente - aquilo que recusamos a fazer, que é pensar.

Este fanatismo parece ser maior na classe média, uma classe feliz que adere fácil ao misticismo e que considera a luta pela sobrevivência como algo superado, tendo como preocupação apenas o desejo de preservar seu padrão de vida alcançado, algo que acredita ser possível com a ajuda dos tutores que admira.

Três casos ilustram muito bem este tipo de fanatismo, cada um em seu setor específico, mas todos relacionados com a mesma citada classe média relatada no parágrafo anterior: o político Lula, o cantor Caetano Veloso e o líder religioso Chico Xavier.

Nos três casos, vemos a transformação de qualquer uma dessas lideranças em divindades vivas, proprietários da verdade absoluta e senhores guias da humanidade, como oráculos de uma humanidade feliz que finge altruísmo, mas que se recusa a resolver os problemas de forma racional, tendo a recorrer a fé em "sábios perfeitos", evitando o esforço e a abnegação que a racionalidade exige.

Lula tem sido tratado como um ser perfeito, quase sobrenatural, incapaz de errar, a ponto de fazer que seus fãs considerem como acerto a equivocada decisão de chamar opositores políticos para governar junto. Mesmo críticas justas a erros reais de Lula são rechaçadas pelos seus admiradores, que nunca admitem qualquer possibilidade de que o ídolo deles seja capaz de cometer algum erro.

Quanto a Caetano Veloso, a mesma coisa. Ídolo absoluto de grande parte da classe média brasileira - há que o considere o melhor cantor e compositor brasileiro de todos os tempos - o cantor chaga a ponto de ser tratado como se fosse um intelectual, embora seu tipo de música nunca tivesse sido francamente intelectualizado. 

Qualquer opinião de Caetano é tratada como verdade inquestionável e mesmo suas dúbias opiniões sobre política - assunto que nunca foi o forte de Caetano - chamam muita atenção, como se o cantor tivesse algum tipo de orientação importante a dar para os seus admiradores sobre o assunto. "Ou não", como ele mesmo costuma dizer, alertando involuntariamente para a sua comprovada indecisão opinativa sobre qualquer assunto.

Colecionador de qualidades: "Deus" encarnado?

E com vocês, a cereja do bolo do fanatismo de classe média: Chico Xavier. Símbolo máximo de bondade e tido como um "intelectual" de uma religião que falsamente evoca o intelectualismo, o beato de Uberaba consegue cativar multidões de ingênuos em um cenário perfeito para a sua terrível dominação, ainda nunca denunciada pelos meios de comunicação mais influentes.

Um reles beato que foi expulso de sua religião, a Igreja Católica, que viu na sua esquizofrenia uma espécie de "dom para a magia negra" e que precisava de um lugar para a rezar, pois ele mesmo era um fanático religioso, encontrou abrigo em uma doutrina estranha, o Espiritismo, onde foi induzido a virar líder absoluto de uma multidão de ingênuos irracionais, tão ou mais doidos que ele.

Xavier é tratado como uma divindade absoluta pelos seus admiradores. Mesmo denunciado nas redes sociais, seus fãs mais ardorosos se recusam a aceitar provas de seu charlatanismo, pois como brasileiros são midiáticos, a verdade só se torna como tal se for veiculada por um meio de comunicação famoso e seguido por todos. 

Graças a essa impunidade, Xavier segue como uma espécie de "Deus" encarnado, blindado fortemente contra quaisquer críticas ou denúncias, como um guia para a humanidade que segue lendo seus livros e declarações tolas como se fossem lições de vida para a eternidade.

Conclusão 

Esses três casos mostram o fanatismo novo da classe média remediada, feliz com sua fartura econômica e que na ânsia de parecer bondosa diante dos outros, apesar de sua ganância e vida pseudo-nobre, resolve virar mística e elege lideranças que mesmo duvidosas, representam o falso desejo de melhoria da humanidade, resolvendo na aparência problemas que nunca são resolvidos na essência.

Mostra que a humanidade brasileira é realmente ignorante, não por falta de capacidade, mas por falta de vontade de aprender e se livrar de crenças tolas, resultante da alienação gerada pela sua vida feliz e muito bem remunerada, cheia de privilégios tratados como direitos indispensáveis. Nunca foi tão bom viver melhor que a maioria das pessoas, sem precisar mover um neurônio de nossos cérebros.

E assim as injustiças permanecem, apesar das ilusões consagradas que nos fazem acreditar em uma humanidade cada vez melhor.

Comentários

Seguidores

Postagens mais visitadas